Um coração
vazio pode impedir a entrada de alguém, mas não um bolso vazio. Seu reino de
graça sempre foi mais congruente com a desprezível pobreza que com a riqueza e
a honra, e as riquezas dificultam muito mais a entrada que a carência; pois
Deus escolheu "os que são pobres aos olhos do mundo para serem ricos em fé
e herdarem o Reino que ele prometeu aos que o amam" (Tg 5.2).
Sei que
"o trabalhador merece o seu salário" (Lc 10.7) e aqueles "que
pregam o evangelho, que vivam do evangelho" (1Co 9.14). [...] No entanto,
desejaria que os bem-intencionados ministros de Cristo levassem em consideração
o que é aconselhável, e também o que é legítimo, sabendo-se que a salvação de
uma alma é melhor que uma grande quantidade de dinheiro, e que nosso ganho,
embora legítimo, é um ganho abominável, pois é pedra de tropeço para a alma de
nosso rebanho. Tornemos o evangelho da graça tão pouco oneroso e incômodo
quanto possível. Prefiro não aceitar o dízimo de meu rebanho que destruir as
almas por quem Cristo morreu; e embora Deus tenha ordenado que aqueles
"que pregam o evangelho, que vivam do evangelho" (1Co 9.14), prefiro
sofrer todas as coisas que ser um obstáculo para o evangelho; e seria melhor
morrer que permitir que algum homem transforme isso em minha honra inútil.
[...]
Se a
necessidade das almas e a promoção do evangelho exigir isso, prefiro pregar o
evangelho maltrapilho e faminto que contender implacavelmente pelo que é
legítimo; e se eu assim agir, não terei do que me gloriar, pois a carência se
abaterá sobre mim; sim, que o infortúnio me persiga, se não pregar o evangelho,
embora jamais tenha recebido algo dos homens. Quão impróprios são os
mensageiros dessa graça e desse reino gratuitos se preferirem perder a alma e o
coração de seu rebanho que perder um tostão daquilo que lhe é devido; se
preferirem aborrecer as pessoas depondo contra a mensagem de Deus que tardar um
pouco seus direitos, contendendo com elas em juízo pelo salário do evangelho, e
transformando as boas novas que alcançam seu coração carnal parecer as tristes
novas por causa desse fardo! Esse não é o caminho de Cristo e seus discípulos,
nem a veneração da abnegada doutrina de entrega e de sofrimento que eles
ensinaram. Fora com todas essas ações que vão contra o fim principal de nosso
estudo e chamado de ganhar almas; e que o infortúnio acompanhe esse ganho que
obstrui o ganhar pessoas para Cristo. Sei que a carne agora fará objeções por
causa das necessidades, e a desconfiança não aceita argumentos; mas nós que
temos o suficiente para responder às reservas de nosso povo, levemos algumas
dessas respostas para casa para que ensinemos a nós mesmos antes de ensinar ao nosso
rebanho. Quantas pessoas você conhece, por quem Deus sofreu, que passam fome na
vinha do Senhor?
Assim como
não pagamos nada pelo amor eterno de Deus, nem pelo Filho de seu amor, nem pelo
seu Espírito, nem por nossa graça e fé, também não devemos pagar nada pelo
nosso descanso eterno. [...] O coração quebrantado que conheceu o deserto do
pecado entende e sente o que digo. Que pensamento maravilhoso pensar na
insondável diferença entre o que merecemos e o que recebemos; entre o estado em
que deveríamos estar e o em que estamos. [...] Ó, como foi de graça todo esse
amor; e como foi de graça toda essa glória que desfrutamos. [...] A sabedoria
infinita moldou todo o plano da salvação do homem em um molde de compra e de
gratuidade, para que o amor e a alegria do homem possam ser aperfeiçoados, e a
honra da graça, mais altamente desenvolvida; que o pensamento do mérito não
obscureça a alegria e o amor do homem, nem obstrua a graça, para que a porta do
céu se abra apoiada nessas duas dobradiças. Portanto, que: "Merecido",
seja escrito no chão do inferno, mas na porta do céu: "O dom
gratuito".
Fonte: Livro
O descanso eterno dos santos
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