Ao chegar na frente
do leão, Edmundo sentiu-se pequeno. Fraco. Então, fazendo força para não
gaguejar, disse em um tom baixo, quase um sussurro.
–Aslam?
Aslam apenas
assentiu, com uma expressão triste em sua face.
–Quero conversar com você, Edmundo Pevensie. Filho de Adão,
estou muito decepcionado com você. Entendo que estava enfeitiçado, mas mesmo
assim, estou desapontado - disse o leão com um tom calmo, mas forte.
–Você vai me matar,
senhor? -O garoto disse em uma voz totalmente amedrontada. Não havia porque
esconder seu medo naquela hora. Ele sabia o que havia feito, e de alguma forma,
teria de pagar por isso.
–Não, é claro que não, nunca faria isso. -respondeu Aslam,
surpreendendo o menino.- Você e seus irmãos vieram para ocupar os quatro tronos
de Cair Paravel, sem você, não conseguiremos derrotar a feiticeira. Você vai
ser uma peça importante, e sei que posso esperar muito de você.
–Mas... eu o traí. Mereço alguma punição. -Sim, parece
estranho culpar a si mesmo, mas a expressão de Aslam, o fazia sentir muito mais
culpa que o som de seu nome.
–Sim, -respondeu o leão- você traiu. E essa é a sua punição.
Ficar com esta lembrança e também reconquistar a confiança de seus irmãos e
amigos, que também será uma tarefa difícil.
Edmundo apenas
assentiu. Queria ser um menino corajoso, como os soldados que vira. Como seu
pai. Mas não resistiu ao que sentia. Caiu ajoelhado diante de Aslam, com
lágrimas rolando pelo rosto.
Aslam o olhou,
parecendo que já esperava essa situação, então abaixou. Edmundo esperou algum
golpe dele, pois sabia que merecia. Mas ao contrário do que pensou, ele o
amparou, lhe segurou e levantou.
–Algum dia será capaz de me perdoar? -o menino perguntou
entre as lágrimas. A culpa que não cabia mais no coração, agora lhe escorria
pelos olhos.
–Não seria capaz algum dia, -diz o leão se virando- pois já
te perdoei antes de você fazer qualquer coisa.
Então finalmente
Aslam vira para ele e diz.
– Filho de Adão, sei que hoje não estou, mas em pouco tempo
estarei mais orgulhoso de você do que alguém poderia estar- e foi com essas
palavras que ele saiu andando até o acampamento, e num piscar de olhos, já
estava longe.
–Aslam! -chamou Edmundo. Agora, no lugar de sentir medo e
culpa, sentia algo diferente ao som de seu nome. Como se todo o peso do mundo
fosse tirado de suas costas. Um alívio que o amparava e o fazia se sentir uma
nova pessoa, livre de todos os erros e culpas. Algo reconfortante e que o
enchia de calor, como um abraço. Mas o leão já estava longe, indo até os outros
três. Então o menino esperou que o vento levasse a ele sua última palavra.-
Obrigado.
Então, Edmundo se
virou, e foi ao encontro de seus irmãos.
C.S Lewis
As crônicas de Nárnia
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