sábado, 4 de junho de 2016

O Amor às Ovelhas ou o Dinheiro Delas? - Richard Baxter




Um coração vazio pode impedir a entrada de alguém, mas não um bolso vazio. Seu reino de graça sempre foi mais congruente com a desprezível pobreza que com a riqueza e a honra, e as riquezas dificultam muito mais a entrada que a carência; pois Deus escolheu "os que são pobres aos olhos do mundo para serem ricos em fé e herdarem o Reino que ele prometeu aos que o amam" (Tg 5.2).

Sei que "o trabalhador merece o seu salário" (Lc 10.7) e aqueles "que pregam o evangelho, que vivam do evangelho" (1Co 9.14). [...] No entanto, desejaria que os bem-intencionados ministros de Cristo levassem em consideração o que é aconselhável, e também o que é legítimo, sabendo-se que a salvação de uma alma é melhor que uma grande quantidade de dinheiro, e que nosso ganho, embora legítimo, é um ganho abominável, pois é pedra de tropeço para a alma de nosso rebanho. Tornemos o evangelho da graça tão pouco oneroso e incômodo quanto possível. Prefiro não aceitar o dízimo de meu rebanho que destruir as almas por quem Cristo morreu; e embora Deus tenha ordenado que aqueles "que pregam o evangelho, que vivam do evangelho" (1Co 9.14), prefiro sofrer todas as coisas que ser um obstáculo para o evangelho; e seria melhor morrer que permitir que algum homem transforme isso em minha honra inútil. [...]


Se a necessidade das almas e a promoção do evangelho exigir isso, prefiro pregar o evangelho maltrapilho e faminto que contender implacavelmente pelo que é legítimo; e se eu assim agir, não terei do que me gloriar, pois a carência se abaterá sobre mim; sim, que o infortúnio me persiga, se não pregar o evangelho, embora jamais tenha recebido algo dos homens. Quão impróprios são os mensageiros dessa graça e desse reino gratuitos se preferirem perder a alma e o coração de seu rebanho que perder um tostão daquilo que lhe é devido; se preferirem aborrecer as pessoas depondo contra a mensagem de Deus que tardar um pouco seus direitos, contendendo com elas em juízo pelo salário do evangelho, e transformando as boas novas que alcançam seu coração carnal parecer as tristes novas por causa desse fardo! Esse não é o caminho de Cristo e seus discípulos, nem a veneração da abnegada doutrina de entrega e de sofrimento que eles ensinaram. Fora com todas essas ações que vão contra o fim principal de nosso estudo e chamado de ganhar almas; e que o infortúnio acompanhe esse ganho que obstrui o ganhar pessoas para Cristo. Sei que a carne agora fará objeções por causa das necessidades, e a desconfiança não aceita argumentos; mas nós que temos o suficiente para responder às reservas de nosso povo, levemos algumas dessas respostas para casa para que ensinemos a nós mesmos antes de ensinar ao nosso rebanho. Quantas pessoas você conhece, por quem Deus sofreu, que passam fome na vinha do Senhor?
Assim como não pagamos nada pelo amor eterno de Deus, nem pelo Filho de seu amor, nem pelo seu Espírito, nem por nossa graça e fé, também não devemos pagar nada pelo nosso descanso eterno. [...] O coração quebrantado que conheceu o deserto do pecado entende e sente o que digo. Que pensamento maravilhoso pensar na insondável diferença entre o que merecemos e o que recebemos; entre o estado em que deveríamos estar e o em que estamos. [...] Ó, como foi de graça todo esse amor; e como foi de graça toda essa glória que desfrutamos. [...] A sabedoria infinita moldou todo o plano da salvação do homem em um molde de compra e de gratuidade, para que o amor e a alegria do homem possam ser aperfeiçoados, e a honra da graça, mais altamente desenvolvida; que o pensamento do mérito não obscureça a alegria e o amor do homem, nem obstrua a graça, para que a porta do céu se abra apoiada nessas duas dobradiças. Portanto, que: "Merecido", seja escrito no chão do inferno, mas na porta do céu: "O dom gratuito".


Fonte: Livro O descanso eterno dos santos

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